12 de janeiro de 2013

A HORA DO JUÍZO

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Os capítulos 2, 7 e 8 do livro de Daniel apresentam uma sequência de eventos históricos que precedem a segunda vinda de Cristo. Eles descrevem a sucessão de quatro impérios(a), com destaque para o último que atuou contra a autoridade de Deus e contra o ministério intercessório de Jesus. O capítulo 7 narra-o dizendo: "Proferirá insultos contra o Altíssimo e porá à prova os santos do Altíssimo; ele tentará mudar os tempos e a lei (...)" (Daniel 7:25 BJ).

Entretanto, Deus não permitiria que Sua lei e a verdade sobre o ministério sumo-sacerdotal de Jesus prosseguisse indefinidamente obscurecida pelo erro. Através de homens e mulheres fiéis, Ele reavivaria Seus propósitos (Isaías 58:12). A reforma protestante redescobriu parcialmente o papel de Cristo como nosso Mediador, o que ocasionou grande reavivamento no mundo cristão. Contudo, havia ainda outras verdades a serem reveladas acerca de Seu ministério celestial. E o tempo em que Deus restauraria essas verdades e iniciaria o grande julgamento da raça humana foi revelado:
- Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército a fim de serem pisados?
- Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado. (Daniel 8:13-14 RA).
Ao anjo Gabriel foi entregue a missão de explicar esses eventos ao profeta Daniel, mas o impacto das informações o conduziu a enfermidade (Daniel 8:26-27), motivando Gabriel a adiar os esclarecimentos quanto ao período das "2300 tardes e manhãs", a única parte da visão que não havia sido explicada; posteriormente, ele retorna com o objetivo de resolver esta questão (Daniel 9:21-23). Portanto, os capítulos 8 e 9 do livro de Daniel estão fortemente conectados, sendo o capítulo 9 a chave para desvendar o mistério desse período de tempo descrito no capítulo 8. Antes porém, se faz necessário entender o significado da expressão "tarde e manhã":
"(...) E disse Deus: 'Haja luz.' E houve luz.
E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia." (Gênesis 1:3-5 RA).
De acordo com a Bíblia, "uma tarde" (noite - trevas) e "uma manhã" (dia - luz), formam o intervalo de tempo de "um dia" (período compreendido entre um pôr do Sol ao outro), e esta maneira de mencionar "um dia" foi utilizada pelo anjo Gabriel. Portanto, as "2300 tardes e manhãs" de Daniel 8:14 referem-se a "2300 dias". Porém, os capítulos 8 e 9 descrevem tempo profético(b) e, nesses casos, "um dia" representa "um ano" (Números 14:34; Ezequiel 4:7). Assim, os "2300 dias" proféticos equivalem a "2300 anos" literais. E o próprio Gabriel auxilia nesta questão ao afirmar que a transgressão contra o santuário (Daniel 8:13) se estenderia até o "tempo do fim" (até os "dias longínquos", Daniel 8:17-19 e 26), isso elimina a contagem simplista de "2300 dias" (equivalente a 3 anos e 6 meses) em Daniel 8:14 por não alcançar o "tempo do fim" (cf. Daniel 12:4-9). Após estas informações, prossigamos com as palavras de Gabriel:
"(...) Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão. Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o santo dos santos." (Daniel 9:22-24 RA).
E qual a relação entre essas "setenta semanas" e os "2300 anos"?
Quando o anjo Gabriel retorna para continuar as explicações sobre a visão descrita no capítulo 8, ele inicia justamente abordando as questões levantadas em Daniel 8:13, e que não foram esclarecidas dificultando o entendimento da visão (Daniel 8:27 cf. Daniel 9:23). O período de "70 semanas" e os eventos vinculados à ele esclarecem tanto a pergunta quanto a resposta de Daniel 8:13-14; a palavra "determinada" usada em Daniel 9:24 também relaciona diretamente as "70 semanas" aos 2300 anos.

Embora a maioria das traduções bíblicas utilizem a palavra "determinada" ou "decretada" para traduzir o termo hebraico "chathak", o sentido que mais aproxima-se dele são os verbos separar, cortar, dividir, repartir.1, 2 E algumas traduções(c) optaram em usar estes verbos como correspondente a "chathak", posicionamento defendido pelo dicionário hebraico-inglês de Genesius.3
 
Portanto, as "70 semanas" foram cortadas ou separadas de outro intervalo de tempo, os 2300 anos citados na visão de Daniel: "Por isso, preste atenção à mensagem para entender a visão: setenta semanas estão decretadas ["chathak" - separadas, retiradas]" (Daniel 9:23-24 NVI). E para realizar essa separação de tempo, o mesmo princípio bíblico, "cada dia por um ano" (Números 14:34; Ezequiel 4:7), deve ser aplicado as "70 semanas". Como uma semana possui 7 dias e a profecia menciona 70 semanas, logo: 70 x 7 = 490 dias (proféticos) ou 490 anos (literais). Assim, 490 anos devem ser subtraídos de 2300 anos.
 
E em que momento inicia a contagem dos 490 anos?
"Saiba e entenda que, a partir da promulgação do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém até que o Ungido, o príncipe, venha, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas. Ela será reconstruída com ruas e muros, mas em tempos difíceis." (Daniel 9:25 NVI).
Segundo Gabriel, a contagem dos 490 anos inicia a partir da ordem para restaurar e reconstruir Jerusalém. E a História registra que essa ordem foi dada pelo rei Artaxerxes, da Pérsia, no ano 457 a.C.
 
O verso de Daniel 9:25 revela ainda que desde a ordem para recuperar Jerusalém até o Ungido (até o batismo de Jesus Cristo), se passariam "sete semanas" e "sessenta e duas semanas"(d), que somadas totalizam "69 semanas". Então, a partir da contagem inicial das "70 semanas" (490 anos), "69 semanas" se passariam até a chegada da época do batismo de Cristo. E, em linguagem profética, "69 semanas" equivalem a 483 anos (69 semanas x 7 dias semanais), o que conduz ao ano 27 d.C., data em que se realizou o batismo de Jesus.
 
Contudo, Daniel 9:25 menciona somente 69 das 70 semanas proféticas. Resta ainda "uma semana" a ser analisada, pois: "Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares. (...)" (Daniel 9:27 RA).
 
A profecia afirma que o Ungido, na metade da última semana (três anos e meio - 3½), cessaria o sacrifício. Em outras palavras, Jesus morreria na cruz e não seria mais necessário o sacrifício de animais que Israel realizava (Mateus 27:51 cf. Hebreus capítulo 9). E a História registra que exatamente no ano 31 d.C., Jesus foi morto, confirmando com exatidão as profecias.
 
A outra metade (três anos e meio 3½) da "última semana" terminou em 34 d.C. Nessa época o apóstolo Estevão, após testemunhar em favor de Cristo e Seu ministério, foi apedrejado pelos israelitas com o consentimento do sinédrio (Atos capítulo 7 cf. Mateus 23:37). Com esta atitude a nação de Israel encerra o tempo que lhe foi concedido para retornar aos caminhos de Deus; o que consequentemente a manteria como representante oficial dEle na Terra.4 Assim, finda-se o período de 490 anos: "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade. (...)" (Daniel 9:24 RA cf. Mateus 18:22). Esses acontecimentos foram revelados a Daniel por volta de 607 a.C. e, séculos depois, tudo se cumpriu com excepcional precisão.
Sendo que os 490 anos foram separados (repartidos) dos 2300 anos, em que ano seremos encaminhados ao prosseguir na contagem do tempo que restou?(e) Concluiremos que o período de 2300 anos termina em 1844 d.C., ano em que iniciou-se a purificação do santuário celestial(f) e o julgamento da humanidade;5 visto que: tanto o fim do obscurecimento do ministério sumo sacerdotal de Cristo acarretado pela "transgressão assoladora" (Daniel 8:17-19 e 26), quanto a eliminação do pecado e o restabelecimento da justiça eterna de Deus, citados em Daniel 9:24, não se concretizaram com o término dos 490 anos. Estas coisas foram profetizadas para ocorrerem respectivamente no "tempo do fim" (Daniel 8:17-19 e 26 cf. Daniel 12:4-9) e no segundo advento de Jesus (II Tessalonicenses 2:7-8 cf. Daniel 8:25; II Pedro 3:13).
O termo "selar" (hb. chatham) em Daniel 9:24, não foi usado no sentido de "encerrar" ou "concluir" os eventos listados no próprio verso, mas para indicar que o cumprimento das profecias compreendidas no período das "70 semanas" (490 anos), confirmariam (validariam, comprovariam) que as demais profecias da visão de Daniel, sobretudo aquelas vinculadas ao término do período de 2300 anos, seriam da mesma forma fielmente cumpridas (realizadas, efetivadas). Adiante o resumo dos principais eventos descritos:
457 a.C. - Entrega da ordem para reconstruir Jerusalém (Esdras 7:11-28).
27 d.C. - João batiza Jesus, o Ungido (Mateus 3:13-17).
31 d.C. - Sacrifício do Ungido. Três anos e meio após o Seu batismo ("na metade da semana, fará cessar o sacrifício"), Jesus foi morto na cruz do Calvário (Lucas 23:46 cf. Daniel 9:27).
34 d.C. - Estevão, à exemplo de outros mensageiros de Deus, foi apedrejado pelo povo de Israel (Lucas 13:34), com isso o título (credencial) de nação sacerdotal de Deus lhe foi retirado (Jeremias 6:16 cf. Mateus 21:42-46); iniciou-se a perseguição à igreja primitiva (Atos 8:1-3); Paulo converte-se e leva o evangelho aos gentios (Atos 13:44-52).
1844 d.C. - Início da purificação do santuário celestial e do juízo investigativo.6
Segundo as profecias foi a partir do ano de 1844 que as ações dos homens passaram a ser definitivamente avaliadas no juízo de Deus (cf. Daniel 7:10, Apocalipse 22:11-12), e milhões de pessoas desconhecem ou ignoram essa verdade. Por isso surgi "um anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a toda nação, tribo, língua, e povo, dizendo em grande voz: 'Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora de Seu juízo.' (...)" (Apocalipse 14:6-7 RA). A palavra anjo em linguagem profética significa mensagem ou mensageiro, e a descrição desse anjo voando representa a urgência com que esta mensagem deve ser proclamada.
 
Infelizmente o juízo é mal compreendido. Muitos confundem o juízo divino com os flagelos e catástrofes que acontecerão antes do retorno de Cristo. Os flagelos são parte da sentença do juízo; não é o juízo. A prisão ou pena de morte, por exemplo, não é o juízo mas a condenação (sentença). Juízo é o processo pela qual se considera um caso através de um juiz, um advogado, um promotor de acusação, testemunhas e provas.7 E o profeta Daniel descreve o juízo celestial nas seguintes palavras:
"Enquanto eu olhava, tronos foram colocados, e um Ancião Se assentou. Sua veste era branca como a neve; o cabelo era branco como a lã. Seu trono era envolto em fogo, e as rodas do trono estavam em chamas. De diante dEle, saía um rio de fogo. Milhares de milhares o serviam; milhões e milhões estavam diante dEle. O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos." (Daniel 7:9-10 NVI).
Texto baseado em: Nisto Cremos. (2003). 7.ª ed., São Paulo: CPB, cap. 23.
Vídeos relacionados: O Juízo Final; Cremos no Juízo
a. Impérios: babilônico, medo-persa, grego e romano.
c. Por exemplo, a versão espanhola "Sagradas Escrituras" de 1569, apresenta o verbo "cortar" entre parênteses destacando o sentido mais preciso para o verbo hebraico "chathak": "Setenta semanas están determinadas (heb. cortadas) sobre tu pueblo y sobre tu Santa Ciudad. (...)" (Daniel 9:24). E a "Darby Version" traz a seguinte tradução: "Seventy weeks are apportioned [repartidas, divididas] out upon thy people and upon thy holy city" (Daniel 9:24).
d. "Sete semanas" equivalem a 49 anos, tempo gasto para restaurar Jerusalém. E, "sessenta e duas semanas" (434 anos), refere-se ao tempo compreendido entre a conclusão da reedificação de Jerusalém (408 a.C.) e o batismo de Jesus (27 d.C.). No total, "sete semanas e sessenta e duas semanas" correspondem a soma de 7 + 62 = 69 semanas, e que pelo princípio do dia profético representam 483 anos.
e. Nos cálculos considerar que não existe o "ano zero", tem-se o ano 1 a.C. e em seguida 1 d.C.
f. A purificação do santuário celestial deve ser compreendida à semelhança do que ocorria no santuário terrestre no dia da Expiação. Acesse: O Tribunal Celestial.
1. STRONG, J. (1981). The Exhaustive Concordance of the Bible, ed. Macdonald Publishing Company; (ref. n.º 02852).
2. A análise de escritos hebraicos, tais como os Mishnah, revela que embora "chathak" possa significar "determinar", o significa mais próximo é "cortar". Fonte: SHEA, W. H. The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and 9. In: WALLENKAMPF, A.; LESHER, W. R. (1981). The Sanctuary and the Atonement. Washington, D.C.: Biblical Research Institute, p. 228-250.
3. GENESIUS. (1950). Hebrew and Chaldee Lexicon to the Old Testament Scripture, London: Samuel Bagster, p. 314b.
4. Jeremias 6:16; Jeremias 18:15-16; Ezequiel 22:7-8 e 26; Êxodo 19:5-6; Romanos 3:2; Mateus 21:42-46.
5. Hebreus 8:1-2; Hebreus 9:23-24; Daniel 7:9-10 cf. Apocalipse 11:19.
6. Daniel 8:14; Daniel 7:9-10; Apocalipse 11:19; Apocalipse 14:7.
7. BULLON, A. (1998). O Terceiro Milênio e as Profecias do Apocalipse, 1.ª ed., São Paulo: CPB, p. 29.

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