31 de março de 2011

A PRIMEIRA IGREJA DO APOCALIPSE

Na ocasião em que Jesus inspirou João a escrever as sete cartas, uma congregação cristã estava estabelecida em cada uma das sete cidades mencionadas nos capítulos 2 e 3 do Apocalipse. É muito interessante notar que tais cidades estavam situadas de tal modo ao longo da estrada romana (em Portugal há muitos vestígios dessas construções), era possível visitá-las exactamente pela ordem mencionada. É provável que o correio de Roma realizasse o trajeto na referida ordem enquanto distribuía a correspondência. “Todas as sete cidades se localizavam junto da grande estrada circular que unia as cidades mais populosas, mais ricas e mais influentes da província da Ásia Menor”, diz W. M. Ramsay, The Letters to The Seven Churches of Asias (As Cartas às Sete Igrejas de Ásia).
Tendo em conta o livro do Apocalipse, com todos os simbolismos que são apresentados, seriam só estas sete igrejas? Ou representam elas diferentes condições da igreja em qualquer tempo e em qualquer lugar? São as sete mensagens constituídas por admoestações gerais a qualquer um? Serão estas mensagens destinadas a sete fases sucessivas na experiência da Igreja como um todo?
1. Mensagem para as congregações locais.As sete castas referenciam algumas coisas que já tinham acontecido, ou que estavam em processo de concretização nos dias em que o Apocalipse foi escrito: “Tenho, porém, contra ti (Éfeso) que abandonaste o teu primeiro amor.” Apocalipse 2:4. “Tens aí (em Pérgamo) os que sustentam a doutrina de Balaão.” Apocalipse 2:14. “Tenho, porém contra ti (Tiatira) o tolerares… essa mulher, Jezabel.” Apocalipse 2:20. “Guardaste (em Filadélfia) a Minha palavra, e não negaste o Meu nome.” Apocalipse 3:8. “Pois dizes (Laodiceia) estou rico e abastado.” Apocalipse 3:17.
Nota: obviamente, esta afirmações devem ter sido verdadeiras em relação às congregações locais, no tempo em que João lhes escreveu; caso contrário, quando as cartas chegassem, os cristãos daquelas localidades diriam: “Oh, João não sabe o que está a dizer.” Portanto, não resta dúvida de que as cartas tratavam de questões atuais às respetivas congregações locais, existentes nos dias de João.
2. Quais são os nomes destas sete igrejas?
Rª: “Que dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.” Apoc. 1:11.
3. Qual é a mensagem à primeira igreja do Apocalipse?
Rª: “1 ESCREVE ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro:
2 Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à
prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos.
3 E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste.
4 Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
5 Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.
6 Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.
7 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus.” Apoc. 2:1-7.
4. Qual é o significado de Éfeso?
Rª: O significado de Éfeso é desejável, e apropriadamente descreve o carácter e condição da igreja no seu primeiro estado, quando os seus membros receberam a doutrina Cristo na sua pureza, e desfrutaram os benefícios e bênçãos dos dons do Espírito Santo. Isto aplica-se ao primeiro século, ou durante a vida dos apóstolos (ano 31 ao ano 100 da era cristã).
O apóstolo Paulo terá pregado nesta cidade por volta do ano 52 d.C., ao deter-se por um curto período a caminho de Jerusalém, na segunda viagem missionária. Os seus amigos Àquila e Priscila habitavam esta cidade por esta altura e, juntamente com um alexandrino chamado Apolos foram os pioneiros da obra de evangelização. A passagem de Paulo terá sucedido dois anos mais tarde (Actos 18:19 a 19:7). Por esta ocasião o apóstolo Paulo terá permanecido em Éfeso cerca de 3 anos, ou seja, mais tempo que em qualquer outro lugar. O que pode indiciar que a sua obra em Éfeso foi muito frutífera. Lucas, seu companheiro e biógrafo “… todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos.” Atos 19:10.
5. Que exortações e elogios são feitos a este Igreja?
Rª: “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste.” Apoc. 2:2-3
Nota explicativa: “Conheço”, que extraordinário consolo, o Senhor conhece! Não só a igreja de Éfeso, conhece todas as igrejas e cada membro individualmente, Ele conhece a fundo e não só de forma superficial. Ele conhece não só a fidelidade, mas também a infidelidade. Reconhece “as obras” ou “trabalhos”, o cansaço que resulta de um intenso esfrorço. Cristo afirma ter conhecimento das obras realizadas por Sua igreja e reconhece a paciência ou perseverança necessária para tal consecução. Esta é uma igreja que não só recebeu bênçãos pelo facto de ter conhecido pessoa que estiveram face a face com Cristo, também foi provada por “apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos”. Não há dúvida, esta é uma mensagem actual; falsos apóstolos vieram na igreja primitiva, falsos apóstolos vêm e já estão na igreja dos últimos dias: um propósito semear a confusão. Eles eram e são mentirosos!
6. Que lamento vem da parte de Jesus à Sua Igreja?
Rª: “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.” Apoc. 2:4.
Nota explicativa: “o teu primeiro amor”, seguramente trata-se do amor puro a Deus e à verdade, o amor fraternal aos semelhantes em geral (Mat. 5:43-44; 22:34-40). As controvérsias doutrinais suscitadas pelos falsos profetas, quiçá, tenham dado lugar a um espírito de divisão. Apesar dos diligentes esforços para conter a maré de falsos ensinos; pessoas que estavam na igreja tinham sido contaminadas por estes falsos ensinos. A acção do Espírito Santo como mensageiro da verdade (João 16:13), tendo a tarefa de converter à verdade e levar cada crente a viver uma transformação de carácter, foi sem dúvida manchada (João 16:8-11; Gál. 5:22,23; Ef. 4:30). Pode perceber-se o drama deste v.4, à medida que morriam os que se tinham relacionado pessoalmente com Jesus, o seu testemunho como colunas da verdade, ia-se apagando a iminência da vinda de Jesus (1:1), a chama da fé e da consagração ia-se debilitando.
7. Como se chamava uma das seitas heréticas?
Rª: “Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.” Apoc. 2:6.
Nota explicativa: “nicolaítas”, um dos grupos que atormentou a Igreja de Éfeso e Pérgamo (v.15) e seguramente outras. Ireneu identificou os nicolaítas como uma seita gnóstica:”João o discípulo do Senhor, prega esta fé (a divindade de Jesus), e mediante a proclamação do Evangelho procura arrancar o erro que tinha sido disseminado entre os homens por Cerinto, e muito antes pelos chamados nicolaítas, que são um ramo daquela falsa ´ciência´, que persuadem que há um Deus que fez todas as coisas pela sua Palavra” (Contra heresias iii, 11.1). há também evidências históricas de que por esta altura uma seita gnóstica chamada nicolaítas. Alguns pais da igreja escreveram sobre esta seita (Ireneu, Contra herejias i, 26.3; Hipólito, Refutación de todas las herejias vii, 24), identificam o seu fundador como sendo Nicolau de Antioquia, um dos sete diáconos (Atos 6:5). Dá para entender que os piores inimigos surgiram dentro da própria Igreja.
Conclusão: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus.” Apoc. 2:7.
Nota: “vencer”, a flexão do verbo implica que a pessoa entra num “vencer contínuo”. A vitória é um tema que se repete no Apocalipse. As promessas são para os que vencem uma e outra vez, não desistem, têm a certeza em Cristo que são filhos de Deus. Face aos falsos ensinos, o crente sincero procura “ouvir” a VERDADE e nela se firma, ele quer comer da árvore da vida não dos falsos ensinos. Amem!

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